A redução de verbas para a ciência e tecnologia no Brasil tem gerado frustração entre pesquisadores, comprometendo o futuro tecnológico do país. O pesquisador Glauco Meireles, por exemplo, teve seu projeto elogiado, mas não conseguiu bolsa do CNPq. Ele pretendia estudar a aplicação do estanho em baterias de lítio, um recurso abundante no Brasil, mas sem a bolsa, a dedicação exclusiva à pesquisa se torna inviável.
Em 2020, o edital do CNPq aprovou 3.080 projetos com mérito, mas apenas 396 receberam bolsas. A entidade justificou que a concessão de bolsas foi limitada pelos recursos disponíveis e pelas incertezas causadas pela pandemia de covid-19. A falta de bolsas obrigou muitos pesquisadores a buscar outras fontes de renda, como trabalhos temporários ou ajuda familiar.
A crise no setor de ciência e tecnologia é considerada a mais grave desde as décadas de 1950 e 60. O cientista político Luis Fernandes afirma que o sistema está em colapso. A vice-presidente da Academia Brasileira de Ciências, Helena Nader, destaca que a falta de recursos desestimula jovens pesquisadores, comprometendo o futuro da ciência no país.
O CNPq planeja lançar um novo edital em 2021, com R$ 35 milhões para bolsas de doutorado e pós-doutorado, após a liberação de créditos suplementares. No entanto, a situação atual já causou danos significativos. Pesquisadores como Meireles, que dependem das bolsas para se sustentar, enfrentam dificuldades para continuar seus projetos.
A falta de bolsas também afeta a saúde mental e física dos pesquisadores. Gabriela Lopes, doutora em literatura e cultura, relata que a ausência de recursos a obrigou a retornar para a casa da mãe e buscar trabalhos informais. A situação é humilhante e desmotivadora, especialmente para aqueles que dedicaram anos à pesquisa.
O orçamento do CNPq para 2021 é de R$ 1,2 bilhão, com 55% desse valor dependente de créditos suplementares. Para bolsas de pesquisa, serão destinados R$ 944 milhões, 12% a menos que no ano anterior. A redução contínua de recursos nos últimos anos tem prejudicado o avanço da ciência, tecnologia e inovação no Brasil.
A principal esperança do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI) é a liberação de R$ 5,1 bilhões do Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT). Esses recursos são essenciais para reverter a crise e garantir a continuidade das pesquisas no país.